Poesias de Béranger
Poesias de Além-Túmulo
QUERÍAMOS VERSOS DE BÉRANGER
(Sociedade Espírita do México, 20 de abril de 1859)
Depois que me afastei de nossa pátria bela,
E outros países vi, ouço alguém me deter:
Voltai, voltai, ouvi a quem vos apela,
Nós queremos ter mais versos de Béranger.
Deixai, pois, repousar esta musa risonha;
Ela já habita o céu com seus campos abertos,
Para louvar seu Deus com voz que alegre sonha
Cada dia ao juntar-se aos celestes concertos.
Ela cantara outrora as mais frívolas árias;
Por seu bom coração, Deus a si o chamou,
Não tendo achado más as suas canções várias.
Ele amava, ele orava e nunca a alguém odiou.
Se eu pude flagelar a raça capuchinha
Com seu bom coração os franceses têm rido.
Se a voltar a este mundo o bom Deus me destina,
A zombar-lhes ainda eu serei compelido.

Nota – Aqui o Espírito Béranger, deixando-nos entregue à nossa prece, deu-nos os versos seguintes:

O quê! Me assassinais, leviana e humana raça!
Versos! Meus versos sempre! O pobre Béranger
Bastante os feito tem sobre a terra em que passa
E contra eles seu fim devia proteger.

Mas não, pois que ele é nada, e se lhe cumpra a sorte!
Em morrendo, esperava o bom Deus impedisse-o.
Se me quereis punir, ai de mim! Que o suporte
O pobre Béranger a que votais suplício.

Béranger

ENSAIO AINDA UMA DE MINHAS CANÇÕES

(Sociedade Espírita do México)

I

Filho querido de uma terra amada,
Lembro-me sempre de você aqui.
Sob outros céus, alma regenerada
Amor, beleza e mocidade vi
Da vida, enfim, no seu topo me inundo,
Eterno globo de reencarnações;
E eu, pobre Espírito deste outro mundo,
Ensaio alguma de minhas canções.

II

Eu vi chegar esta diva criatura
Que de emoção envolve o nome seu;
Mas em seus olhos não mais que a ternura,
Pôde sentir sem medo este olhar meu.
E adormeci, e a amiga em tom profundo,
Dá-me ao partir enternecidos sons;
E eu, pobre Espírito deste outro mundo,
Ensaio algumas de minhas canções.

III

Oh, ide em paz! Deitai-vos no jazigo,
Mortos felizes, deixai de acordar;
Olhos fechados são telas de abrigo
Que se abrirão a um sol belo e a brilhar.
Sorride, pois, que a morte lá no fundo
Quer-vos brindar com messes e orações;
E eu, pobre Espírito deste outro mundo,
Ensaio alguma de minhas canções.

IV

Ei-los caídos, gigantes da glória;
Escravos, reis, todos serão iguais,
Que para todos nós maior vitória
Só cabe àquele que amar souber mais.
Lá vemos esse que amor, gemebundo,
Nos pede, ou que deixamos com aflições.
E eu, pobre Espírito deste outro mundo,
Ensaio alguma de minhas canções.

V

Adeus, amigos. Adentro esse espaço
Que à vossa voz possa eu sempre vencer;
A imensidade é um eterno enlaço
Que brevemente vireis percorrer.
Sim, e com voz jovial em tom jucundo,
Juntos direis então minhas lições;
E eu, pobre Espírito deste outro mundo,
Ensaio alguma de minhas canções.

Béranger

Observação – De passagem por Paris, o presidente da Sociedade Espírita do México houve por bem confiar-nos uma coletânea de comunicações dessa Sociedade, autorizando-nos a escolher o que julgássemos útil. Pensamos que nossos leitores não protestarão por essa primeira escolha que fizemos. Verão, pelas mostras, que belas comunicações são dadas em todos os países. Devemos acrescentar que o médium que obteve os dois fragmentos acima é uma senhora inteiramente alheia à poesia.
R.E. , janeiro de 1862, p. 48